30 ANOS DA MORTE DO CAVALEIRO DA ESPERANÇA
Peço silêncio à América da neve ao pampa.
Silêncio: com a palavra o Capitão do Povo.
Silêncio: que o Brasil falará por sua boca.
“Dito no Pacaembu”, Pablo Neruda
Neste dia em 1990 deixava-nos aos 92 anos Luís Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança. Quando ainda um jovem oficial de engenharia do Exército comandou o Estado-Maior da marcha guerrilheira que atravessou todo o país em combates com o Exército brasileiro, as forças estaduais e as tropas que se subordinavam às lideranças políticas dos estados onde passavam. A marcha recebeu seu nome e deu-lhe projeção nacional e mundial, fazendo-o como o conhecido comandante da Coluna Prestes.
Exilado na Bolívia depois do fim da epopéia, Prestes tem seus primeiros contatos com o marxismo através de estudos e diálogos com comunistas argentinos e dirigentes da Internacional Comunista (IC). É convidado a ser o comandante militar da Revolução de 1930, projeto encabeçado por Getúlio Vargas e a Aliança Liberal. Se aceitasse o convite, passaria a ser o segundo nome do movimento, subordinado apenas ao próprio Getúlio Vargas, chefe civil da revolução. Dada sua projeção, prestígio e controle sobre o aparato armado do Estado, seria talvez o nome com mais força no controle do Estado.
Mas Prestes recusa o convite. O faz por entender que a “Revolução” não passava de um movimento de caráter burguês, destinado a assumir as rédeas do desenvolvimento capitalista no Brasil até então conduzido política e economicamente pela já caduca República Velha. Nesse momento Prestes já compreende a necessidade de uma revolução de caráter radical e declara-se comunista. Viaja à União Soviética e lá trabalha como engenheiro nos planos quinquenais do Estado socialista, dedicando-se ainda mais aos estudos do marxismo-leninismo. Em 1934 o PCB aceita Prestes como militante a despeito das fortes desconfianças iniciais e graças às recomendações da IC, da qual seria eleito membro da comissão executiva.
Viaja ao Brasil clandestinamente junto com Olga Benário, comunista alemã e quadro destacado para fazer a segurança do brasileiro, perseguido pelas lideranças do movimento de 30 e pelo Estado Novo recém-instaurado. É eleito presidente de honra da Aliança Nacional Libertadora, movimento de cunho nacionalista e democrático, de caráter amplo e contando com vários setores da sociedade, entre eles os comunistas. Busca então dar capilaridade à ANL e construir bases para uma insurreição que parecia se aproximar. Em 1935 a ANL publica o documento que exigia “todo o poder à ANL” e a derrubada de Vargas. Acontecem levantes militares em quartéis de Recife, Natal e Rio de Janeiro. O movimento é rapidamente sufocado e forte repressão recai sobre a ANL, que é posta na ilegalidade. Em 36 Prestes é condenado à prisão, de onde sairia apenas em 1945 com o fim do Estado Novo.
Assume o cargo de Secretário Geral pelo PCB e é eleito deputado federal pelo Distrito Federal, Pernambuco e Rio Grande do Sul além de senador pelo Rio de Janeiro, mandato que escolhe assumir. Lidera a bancada comunista na constituinte de 1946 com destaque nas discussões de elaboração da nova constituição brasileira.
Com o golpe de 1964, seu nome figura como o primeiro da lista de perseguidos pelos golpistas que viam no Cavaleiro da Esperança uma ameaça a ser eliminada. Prestes conseguiu sair do Brasil, para onde volta apenas em 1979 graças à gradual abertura planejada pelos militares. Seu retorno acirra as discordâncias com a linha do PCB, discordâncias que acabam por culminar com a sua saída após mais de 40 anos de militância no Partido.
A trajetória política de Prestes indiscutivelmente mescla-se com a trajetória do Brasil e do PCB. Quando de sua morte o Estado de São Paulo, periódico de grande circulação e interesse de classe explícita e declaradamente burguês, publica uma matéria reconhecendo o caráter honesto e firme das próprias convicções do comunista recém-falecido. O inimigo não encontrara, em Prestes, forma de destruir sua imagem como a de um homem hipócrita ou incoerente. Até o fim da vida, viveu e lutou pelo que acreditava.
Os poderosos do Brasil nunca o perdoaram. Homem de projeção mundial que teve a oportunidade de receber o poder nas mãos, escolheu o caminho dos oprimidos, dos trabalhadores, escolheu para o Brasil o caminho do socialismo. Patriota, revolucionário e comunista, Prestes figura como um dos militares de maior destaque de nossa história, homem destinado a patronar o nosso Exército quando o Brasil reivindicar para si a dignidade de que é merecedor.
Em tempos em que um militar frustrado aparece como figura exótica de uma ofensiva de classe planejada e executada como operação de terra arrasada, lembremos do homem que em combate Brasil adentro foi alçado ao generalato. Que eles fiquem com seu capitão, nós temos um general que estremeceu o país. Silêncio: que o Brasil falará por sua boca.
Euclides Vasconcelos
Militante da UJC e PCB de Pernambuco