Nota de solidariedade aos estudantes da UFPR
Expressamos nosso total apoio aos estudantes da UFPR, que demonstraram coragem ao resistirem aos ataques da extrema-direita, ao mesmo tempo em que condenamos com veemência quaisquer tentativas de intimidação ou perseguição contra esses estudantes.

Nota de solidariedade da União da Juventude Comunista (UJC)
Nas últimas semanas, a extrema-direita tem ensaiado um contra-ataque desesperado contra militantes de esquerda, em uma tentativa de retaliação à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado. Em vez de assumir sua responsabilidade histórica pelo projeto golpista que fracassou, seus representantes recorrem a provocações dentro das universidades e à criminalização dos estudantes em uma tentativa de transformar as manifestações populares em alvo de perseguição política e judicial.
Na noite de 09 de setembro, o movimento estudantil da Universidade Federal do Paraná (UFPR) se tornou um alvo direto dessa ofensiva ao protagonizar um importante ato de resistência, ocupando o prédio histórico da instituição para impedir a realização de uma palestra organizada por políticos da extrema-direita. O evento, marcado para o mesmo dia em que se iniciava o julgamento de Jair Bolsonaro (PL) e de sua quadrilha de golpistas no Supremo Tribunal Federal, tinha como título “Como o STF tem alterado a interpretação constitucional?”. Longe de se propor a um debate acadêmico ou crítico real, a atividade foi planejada para fazer a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro e atacar as instituições públicas.
Entre os convidados estavam o vereador de extrema-direita Guilherme Kilter (NOVO) e o advogado Jeffrey Chiquini, conhecido por defender policiais militares acusados de assassinatos em operações e por integrar a defesa de Filipe Martins, ex-assessor internacional de Bolsonaro e apontado como mentor da chamada “Minuta do Golpe”. A presença anunciada ainda de Rodrigo Marcial (NOVO) e de militantes da extrema-direita curitibana confirmava o caráter provocativo e reacionário do evento, que não passava de uma tentativa de utilizar a universidade como palanque para legitimar discursos antipopulares e projetar candidaturas eleitorais baseadas no ódio.
Diante da tentativa dos palestrantes e seus apoiadores de forçar a entrada no prédio, mesmo após a orientação da própria universidade pelo cancelamento do evento, os estudantes, junto ao Diretório Central dos Estudantes (DCE) e a organizações da juventude, se mobilizaram para barrar a invasão. Com palavras de ordem e cantos de luta, conseguiram expulsar os vereadores e seus aliados da universidade, demonstrando que o espaço público e acadêmico não será usado como trincheira para o fascismo. A resposta não tardou: a Polícia Militar do Paraná e a tropa de choque cercaram o local e passaram a atacar os estudantes, dentro e fora do campus, com spray de pimenta, bombas de efeito moral, balas de borracha e agressões físicas. Pela primeira vez em mais de cem anos, o prédio histórico da UFPR foi invadido pela PM de forma ilegal e inconstitucional - já que não tem competência em instituições federais - num episódio de repressão brutal que resultou em prisões arbitrárias e em vários feridos.
Expulsos da universidade pelo conjunto de estudantes mobilizados contra a intervenção, os vereadores e seus aliados passaram imediatamente a se vitimizar publicamente, tentando transformar a derrota política que sofreram em combustível para suas futuras campanhas eleitorais. De maneira covarde, o vereador Guilherme Kilter passou a expor imagens de estudantes em suas redes sociais, chamando-os de “bandidos” e incentivando perseguições, colocando em risco a segurança, o trabalho e a vida de jovens que exerceram apenas seu legítimo direito de manifestação.
Essa prática não é isolada, mas parte de uma estratégia nacional da extrema-direita voltada a criminalizar o movimento estudantil e setores organizados da classe trabalhadora. Ao mesmo tempo em que utilizam o espaço público para defender golpistas e atacar instituições democráticas, esses políticos se apoiam no aparato de segurança do Estado e na exposição midiática para construir a narrativa de que estudantes e movimentos populares seriam inimigos a serem neutralizados. Em diferentes universidades do país, essa ofensiva se manifesta de forma recorrente: invasão de campi, agressões físicas, produção de vídeos sensacionalistas e mobilização de seguidores nas redes sociais. Nas instituições públicas de ensino, sejam elas aparelhadas por agentes reacionários ou por falsos “progressistas”, essa lógica se materializa na coerção cotidiana: assédio político, moral e jurídico contra a juventude, especialmente quando a comunidade acadêmica recusa medidas autoritárias. Essas perseguições não se limitam a momentos de conflito direto, mas se prolongam no cotidiano das relações de poder dentro da universidade, explorando a vulnerabilidade dos estudantes diante de ameaças de cortes de bolsas, perseguições acadêmicas e até mesmo demissões para aqueles que acumulam estudo e trabalho.
Essa estratégia de perseguição à juventude não é novidade. Durante os anos de 1964 a 1985, o regime militar brasileiro atacou e reprimiu brutalmente os militantes contrários ao governo instaurado. O movimento estudantil, que à época assumiu papel central nas lutas políticas e sociais, foi alvo direto da repressão: processos judiciais contra manifestações estudantis consideradas “subversivas” foram instauradas. No entanto, mesmo em um cenário formalmente democrático, observamos a reedição dessas práticas de intimidação. Internacionalmente, estudantes nos Estados Unidos têm sido ameaçados de expulsão por defenderem a Palestina. No Brasil, em maio deste ano, estudantes secundaristas e universitários foram alvo de violência na Assembleia Legislativa de São Paulo enquanto protestavam pacificamente contra o projeto de criação de escolas cívico-militares, resultando em dezenas de feridos e na prisão arbitrária de oito jovens, entre eles dirigentes da UEE-SP, do DCE Livre da USP e da União Paulista dos Estudantes Secundaristas. Exemplos recentes incluem ainda a atuação do vereador bolsonarista Kleber (PL), que tentou invadir a Unifesp em Guarulhos, agredindo estudantes e registrando os atos para viralizar nas redes sociais, e a de Wilker Leão na UnB, que gravava aulas sem consentimento para alegar “doutrinação ideológica” e chegou a convocar atos que incentivavam a violência contra estudantes. Na Bahia, na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), o DCE recebeu uma intimação da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) com base em acusações infundadas de que estudantes “extremistas” estariam ameaçando dirigentes sindicais, utilizando termos sensacionalistas para estigmatizar e expor a juventude organizada.
Esses episódios demonstram que a presença de setores bolsonaristas nas universidades não possui qualquer vínculo com a defesa da educação pública ou com os interesses acadêmicos. Pelo contrário, trata-se de uma estratégia calculada para transformar o espaço universitário em vitrine de discursos de pânico moral e ataques às instituições, despolitizando a juventude e reforçando preconceitos, enquanto ignora completamente os problemas reais enfrentados pelos estudantes, como cortes orçamentários, precarização da infraestrutura, evasão e dificuldades de permanência.
O resultado prático é a tentativa de reconstruir uma universidade voltada a privilégios e ao controle ideológico, substituindo seu caráter público, crítico e social por um modelo vigilante e autoritário. A tática é evidente: a direita e seus aliados no aparato repressivo do Estado seguem utilizando a criminalização como arma para tentar silenciar o movimento estudantil. Mas a história também ensina que, apesar de toda violência e intimidação, os estudantes sempre resistiram e seguirão na linha de frente das lutas populares.
Os comunistas têm sido, historicamente, protagonistas na luta contra o fascismo e, mais uma vez, reafirmamos nosso compromisso de estar ao lado de todos que constroem uma frente antifascista em defesa da universidade pública e popular. Expressamos nosso total apoio aos estudantes da UFPR, que demonstraram coragem ao resistirem aos ataques da extrema-direita, ao mesmo tempo em que condenamos com veemência quaisquer tentativas de intimidação ou perseguição contra esses estudantes.