Nota política - Pela reconstrução de um DCE combativo e independente: Firmar a oposição e organizar a luta na UFMG

Na nossa leitura é fundamental fortalecer o bloco de oposição de esquerda tanto na UNE, como na UFMG em si. Um bloco capaz de disputar com uma linha política consequente à política rebaixada que a majoritária apresenta e construir outro projeto de entidade e de Movimento Estudantil.

Nota política - Pela reconstrução de um DCE combativo e independente: Firmar a oposição e organizar a luta na UFMG

Nota política da União da Juventude Comunista (UJC) na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

O último processo eleitoral do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFMG foi atravessado também pela disputa do CONUNE, processo que, muito além de eleger a nova gestão do DCE UFMG, expressou fundamentalmente a reconfiguração das forças políticas no interior do Movimento Estudantil da universidade. Mais do que uma eleição, vivenciamos um momento de crise aberta, onde projetos políticos inconciliáveis se confrontaram. Em jogo, não estava apenas quem iria consolidar uma gestão da entidade para o próximo ano, mas principalmente, que papel o DCE cumpriria frente à conjuntura: se tornaria um verdadeiro instrumento de luta e mobilização da juventude trabalhadora, ou parte de uma engrenagem institucional de defesa do governo e da conciliação de classes?

A cisão da gestão “Ponta de Lança” e a atuação do Afronte ao longo do processo marcaram uma inflexão dessa organização à direita. A aliança formalizada com a majoritária da UNE (PT, Levante, UJS) expressa o abandono de qualquer perspectiva de oposição consequente e a adesão ao projeto de desmobilização estudantil, hoje hegemonizado pelo governismo. Essa escolha teve consequências. A campanha da chapa vitoriosa se silenciou diante dos cortes na educação, desviou o debate político para uma disputa rebaixada e operou ativamente para impedir que a eleição fosse acompanhada da mobilização real dos estudantes. O resultado foi a vitória eleitoral formal da chapa “UFMG é Nóis” com 2.284 votos — mas acompanhada de uma queda drástica no quórum: de 6.590 votantes em 2023 para apenas 4.148 em 2025, em uma universidade com mais de 40.000 estudantes.

Essa redução expressiva da participação estudantil não é acidental. Ela revela o grau de desgaste e despolitização promovido pelas últimas gestões do DCE que se isentaram de apresentar um projeto concreto de luta para a universidade. A vitória da majoritária representa, nesse sentido, uma derrota para o Movimento Estudantil como um todo — e para a UFMG em particular. Trata-se da continuidade de um modelo de entidade que instrumentaliza pautas importantes para escapar de críticas à política rebaixada e governista que apresenta, e que abandona a mobilização cotidiana das bases em nome da priorização dos aparatos institucionais.

Foi diante dessa conjuntura que nós, da União da Juventude Comunista (UJC) e do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), assumimos a tarefa de construir uma alternativa revolucionária e combativa. Junto com o Correnteza, o Juntos e a CST, compusemos a chapa 4, “A UFMG não se rende!”, formando um campo político independente que se propôs a enfrentar a hegemonia da majoritária, afirmando um programa centrado na luta contra os cortes, na organização dos estudantes, na independência política diante do governo e na construção de um DCE a serviço das lutas dos estudantes.

Durante o processo, conseguimos não apenas reunir setores diversos da oposição consequente, mas também expressar força política real. O maior exemplo desse processo foi a construção do ato do Dia Nacional de Luta pela Educação, em 29 de maio. Enquanto a UJS, o Levante e o Afronte buscavam esconder os ataques do governo e limitar o ato à disputa simbólica, tentando inclusive sequestrar a direção do ato, as forças da oposição de esquerda, impulsionamos uma manifestação combativa, com palavras de ordem contra o arcabouço fiscal, os cortes nas universidades e a política econômica de Lula-Alckmin. Foi nesse dia que se demonstrou, de forma inequívoca, o potencial de uma oposição organizada e politicamente firme — capaz de disputar as ruas e a consciência dos estudantes.

Nossa chapa obteve 1.908 votos e elegeu 14 delegados ao CONUNE. Mesmo com menos recursos e sem estar à frente da gestão anterior, conquistamos quase metade dos votos. Isso mostra que há força, acúmulo e espaço para a construção de um campo consequente de oposição na UFMG. A tarefa agora é manter e ampliar essa frente. Não podemos permitir que o DCE siga sendo uma entidade esvaziada, reduzida a instrumento de blindagem do governo, que troca a luta concreta por vídeos em redes sociais e desaparece quando é preciso mobilizar.

Diante desse cenário, foram eleitos três delegados da UFMG para defender o programa e as teses da UJC e do PCBR no 60º Congresso Nacional da UNE, ocorrido em Goiânia entre os dias 16 e 20 do último mês de julho, onde foram votadas as teses e a diretoria da UNE para os próximos dois anos. Defendemos que a UNE retome seu caráter revolucionário e esteja ao lado da juventude trabalhadora nas universidades, como na luta pela redução da jornada de trabalho, com a implementação da escala 4x3 e 30 horas semanais e o fim do arcabouço fiscal, imposto pelo Governo Lula-Alckmin, que impede o investimento e a valorização da educação pública, resultando em diversos problemas para nossas universidades, impactando a política de permanência, infraestrutura, transporte e alimentação, vivenciados pelos estudantes da UFMG diariamente.

Entendendo a necessidade de enfrentar a chamada “Nova Maioria da UNE”, composta anteriormente pela majoritária, e agora, anexando também a Juventude Sem Medo, as forças da Oposição de Esquerda uniram forças para demonstrar a falência e rebaixamento do projeto político desse setor alinhado ao governismo e ao projeto neoliberal para a educação brasileira. O bloco da oposição chegou até mesmo a ser impedido de acessar o espaço no 1º dia da Plenária Final, em uma tentativa de impedir que as forças que buscam transformar a UNE apresentassem suas teses, enquanto movimentos fascistas das juventudes de extrema-direita não tiveram a mesma dificuldade.

Mesmo enfrentando diversos obstáculos para a participação das forças da Oposição de Esquerda nesse processo, apresentamos nossas teses ao lado de forças que compõem o campo da oposição frente ao peleguismo da suposta “Nova Maioria”. Não alimentamos nenhuma ilusão quanto a esse processo e lutamos por mais democracia e transparência, superando os métodos atuais da UNE, onde diversas condutas fraudulentas e coercitivas foram denunciadas, entre elas a orientação da JSM para que os delegados escrevessem seus nomes nas cédulas de votação, além da já citada tentativa de inviabilizar a participação da oposição como um bloco unificado.

Voltamos do congresso de cabeça erguida, com a eleição de três diretorias executivas para a chapa da Oposição de Esquerda, e seguiremos disputando a UNE e defendendo um projeto político revolucionário, para dar consequência à maior entidade de representação estudantil da América Latina. Da mesma forma, com a inserção da majoritária no DCE da UFMG, com alinhamento do Afronte, as forças políticas devem cada vez mais pressionar a gestão atual e denunciar as contradições do projeto político defendido por ela, incapaz de apresentar vitórias para a juventude trabalhadora de nossa universidade, sem independência frente à política neoliberal do governo e firmeza ideológica para travar as batalhas urgentes de nossa universidade.

Diante disso, é urgente organizar a luta. A juventude precisa reagir aos ataques à educação pública, ao avanço das contrarreformas e à precarização da vida estudantil. Para isso, na nossa leitura é fundamental fortalecer o bloco de oposição de esquerda tanto na UNE, como na UFMG em si. Um bloco capaz de disputar com uma linha política consequente à política rebaixada que a majoritária apresenta e construir outro projeto de entidade e de Movimento Estudantil. A UJC e o PCBR reafirmam seu compromisso com essa construção. Seguiremos nas salas, nos corredores, nos atos e nos debates, apontando os problemas que a conjuntura nacional impõe à universidade, organizando os estudantes e promovendo a luta por uma universidade popular e por uma sociedade socialista.

Chamamos os estudantes da UFMG, especialmente aqueles que participaram das lutas, da construção da nossa chapa e acreditaram no projeto que apresentamos, a seguir conosco nesse caminho, organizando a luta por um DCE firme, independente e compromissado com os interesses da classe trabalhadora.