Nota política: DCE de todos ou de ninguém? Pronunciamento sobre a ausência da gestão eleita
Mesmo após 100 dias das eleições para o DCE da UFPA, a gestão eleita ainda não tomou posse. Enquanto o governo federal ataca nossos direitos, nos perguntamos: onde está o DCE?

Nota política da União da Juventude Comunista (UJC) na Universidade Federal do Pará (UFPA)
Hoje, na Universidade Federal do Pará (UFPA), vivemos o escancaramento do projeto do campo majoritário de imobilismo para com as entidades estudantis.
Há quase 100 dias, as eleições do DCE elegeram a chapa “DCE de Todas as Lutas”, do campo majoritário, composto pela União da Juventude Socialista (UJS) e as juventudes do Partido dos Trabalhadores (PT). Apesar de eleitos, sequer tomaram posse e não são transparentes com os estudantes sobre essa demora, por livre e espontânea vontade (ou falta de vontade). E por que isso é tão grave?
O Diretório Central dos Estudantes (DCE) é a entidade máxima de representação estudantil dentro de uma universidade. Por se tratar de uma entidade geral, sua função política é a de representar e mobilizar os estudantes, em pautas que sejam de interesse deles - um exemplo histórico é a luta pela meia-passagem nos anos 80 e 90. Isso significa que, em espaços institucionais, quem representa a classe estudantil é o DCE, e em caso de ataques aos direitos estudantis (como os últimos cortes das universidades feitas pelo atual governo Lula, em maio deste ano), quem mobiliza a classe estudantil é ele também.
O atual DCE da UFPA é um espelho da atual direção da UNE, que é a representação máxima de estudantes em todo o Brasil, e que é igualmente dirigida pelo campo majoritário (UJS e PT). Ambas as entidades, geridas por organizações que não se preocupam com os interesses dos estudantes, se calam diante dos ataques à classe trabalhadora, realizados pelos governos Lula-Alckmin e Barbalho ou até mesmo pela atual gestão do Reitor Gilmar Pereira, da UFPA, que em janeiro deste ano fechou ambos os Restaurantes Universitário (RU).
Enquanto nós da União da Juventude Comunista (UJC) criticávamos e exigiamos uma solução imediata contra a fome dos estudantes, o campo majoritário, ainda que se vanglorie pela “vitória da volta do RU”, já sabia de antemão do fechamento e nada fez para impedir ou avisar os estudantes – pelo contrário, comemorou as medidas insuficientes da reitoria para “solucionar” o problema, como o auxílio alimentação para estudantes inseridos no CADGEST, que além de ter sido um valor insuficiente (míseros 250 reais!), não cobria toda a quantidade de estudantes que realmente precisava desse auxílio e também só caiu na conta dos estudantes um dia após o RU do Básico (que também abriga a cozinha industrial que abastece o RU do Profissional) voltar de maneira precária em uma reforma que ainda não se encerrou, 6 meses depois de se iniciar! Algo parecido se avizinha com a recente interdição da Biblioteca Central do Básico - a reitoria afirma que a reforma só durará 90 dias, mas com o adiamento sistemático da conclusão do RU e com verdadeiras carcaças de obras inacabadas por todo o campus do Guamá às vistas de todos, quem garante que isso será cumprido?
Não é de se admirar então que esse DCE, eleito em uma eleição com pouquíssima participação por parte dos estudantes (7152 votos totais, com uma diferença de dois mil votos a menos do que a eleição de 2023, e considerando que a UFPA tem quase 60 mil estudantes!) ainda não tenha oficialmente sua nova gestão empossada. Isso nada mais é do que uma consequência de um movimento estudantil paralisado, totalmente rendido ao governo federal e estadual e à reitoria, incapaz de responder às aspirações dos estudantes e organizá-los em luta contra o capitalismo e os ataques recorrentes à educação e se contentando com migalhas.
Vemos isso com o recente anúncio de uma festa organizada no Vadião pelo DCE. Se, a princípio, não há nenhum problema organizar festas e eventos culturais, que devem fazer parte da vida acadêmica assim como os seminários e pesquisas, é revelador que esse anúncio seja tratado como uma grande prioridade pela UJS numa universidade aparentemente sem problemas e prioridades de luta e, principalmente, vir tempos depois de uma nota publicada e assinada por 15 centros acadêmicos questionando a demora de 3 meses sem posse da nova gestão, nota essa que foi ignorada por ela e que continua sem uma resposta a uma pergunta clara: CADÊ O DCE?
Ao ignorar uma reivindicação vindo das entidades de base da UFPA (vários dos quais formalmente geridas pelo PT, que deveria assumir como gestão no DCE) a majoritária demonstra, para qualquer um que possa ver, como sustenta uma política afastada dos estudantes, baseada nos acordos por alto, na submissão total ao governo petista e barbalhista, e que relega a entidade máxima de representação estudantil às traças por meses, negando a essa mesma base que a elegeu a devida representação na universidade.
Nada disso é uma surpresa, considerando que a majoritária há anos tem como sua política principal uma defesa incondicional de qualquer projeto e medida que o governo do PT decide aplicar à educação, no máximo publicando notas “para inglês ver” nas redes, enquanto prosseguem a não fazer absolutamente nada de concreto para a mobilização da base estudantil.
Pelo contrário, a submissão da majoritária ao atual governo Lula e seus desmandos - como o Novo Teto de Gastos, o não-reajuste das bolsas de pesquisa, a permanência do Novo Ensino Médio, etc - a leva a trabalhar para aprofundar o estado em que o movimento estudantil se encontra, pois apenas assim o governo tem força para passar qualquer medida contra os estudantes e a educação sem nenhuma resistência. A Universidade Popular, proposta para a universidade que realmente atende aos interesses da classe trabalhadora e das populações oprimidas de nosso país, se torna uma realidade cada vez mais distante dos estudantes, cada vez mais ressentidos com preconceitos de todo tipo, falta de políticas de permanência e sucateamento da infraestrutura - problemas os quais são abafados pela majoritária toda vez que louva de forma acrítica a Universidade Pública como está hoje.
Por consequência, se criam 2 ciclos viciosos. A nível político, cada vez menos estudantes se interessam por não se verem representados nela ou simplesmente por não a virem de forma alguma - dada a desmobilização - e acabam tornando a política um assunto de poucos, e como a atual política estudantil está dominada pelo campo da majoritária, as práticas despolitizantes permanecem, alienando as pessoas da militância, e assim o ciclo se reinicia; e, com a participação popular à míngua, a força e a legitimidade da majoritária dependem da política institucional, que, em seu atual estágio, a draga cada vez mais para suas práticas corruptas e rendidas, enfraquecendo as lutas populares e as tornando mais dependentes da política institucional - são estes os ciclos que explicam o desinteresse da UJS e companhia em gerirem o DCE da UFPA, pois não dependem deles realmente para ser a força dominante, e no atual ritmo, dependerão cada vez menos até um previsível, mas não menos drástico destino: a desativação total do DCE
Com base em tudo o que já afirmamos, a UJC exige a posse imediata da gestão eleita do DCE, sem mais adiamentos, para que as lutas estudantis não permaneçam acéfalas. Não é aceitável que a majoritária permaneça com seu pacto de mediocridade, tenha como prioridade fazer festa e vangloriar a UFPA como “a maior do norte” enquanto o corpo estudantil necessita de mais RUs, circulares, contratação de professores, obras estruturantes e segurança nos campi - tudo o qual só conseguiremos através de luta!
OS ESTUDANTES MERECEM RESPEITO!!
PELA IMEDIATA POSSE DO DCE!!