Nem difamação, nem omissão: a política de entidades da União da Juventude Comunista e do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário
Queremos, sim, que esse momento sirva para reafirmar o rumo político que defendemos e seguir fortalecendo um trabalho coletivo, sério e reconhecido pelas bases.

Nos dias 26 e 27 de abril, militantes da União da Juventude Comunista (UJC) e do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), atuantes no movimento estudantil universitário da capital paulista, se reuniram para debater os preparativos políticos, organizativos e financeiros rumo ao 60º Congresso da União Nacional dos Estudantes (CONUNE). O processo congressual já está em curso com a inscrição de Comissões de Estudantes, responsáveis pela condução das eleições de delegados em cada instituição de ensino superior do país. Essa etapa culminará em julho, no maior fórum do movimento estudantil da América Latina, quando milhares de estudantes se encontrarão para debater os rumos do movimento estudantil frente a luta de classes no Brasil e a luta pela educação.
No dia 2 de março, nos surpreendemos com o vazamento por perfis no Instagram e no Twitter de uma ata da referida reunião. Com a dinâmica das redes sociais, o conteúdo circulou rapidamente entre estudantes das universidades onde atuamos na capital paulista, alcançando também entidades estudantis nas quais participamos e compartilhamos gestões com outras organizações e estudantes independentes.
Em respeito aos espaços políticos que compartilhamos no último período, tornamos pública esta nota, reafirmando nosso entendimento sobre as entidades estudantis e nosso compromisso com a transparência, a fim de esclarecer os fatos, corrigir distorções e denunciar os usos oportunistas que vêm sendo feitos do episódio.
Antes de tudo, é preciso esclarecer que o debate registrado na ata veiculada foi profundamente distorcido. O que se observa é um registro que não corresponde ao conteúdo real do debate nem expressa, com fidelidade, a posição da União da Juventude Comunista sobre as entidades estudantis — tampouco condiz com a prática concreta da nossa militância na construção cotidiana dessas entidades em todo o país. Estamos buscando entender as razões dessa distorção no registro das falas.
Essa distorção gerou uma indignação legítima por parte de estudantes que constroem espaços políticos conosco. Ainda que repudiemos práticas como o vazamento de documentos fora de contexto, reafirmamos nosso compromisso com a transparência e o trabalho coletivo. Por isso, nos colocamos à disposição para não apenas a elucidar os fatos, mas também a ouvir e dialogar com as opiniões e inquietações de cada estudante.
O ponto mais sensível que tomou as redes sociais — e gerou uma indignação compreensível — foi o que diz respeito à política financeira. Afinal, estamos tratando da vida concreta e do sustento material de dezenas de estudantes que constroem diariamente as entidades estudantis, muitas vezes em condições precárias e com sacrifícios pessoais para garantir a permanência e a luta política.
Contudo, é fundamental esclarecer que a política que aplicamos cotidianamente nas entidades em nada se relaciona com qualquer tipo de aparelhamento financeiro, algo que foi distorcido na ata veiculada. O cerne do debate político da reunião foram as políticas de finanças articuladas, e não desvio de finalidade ou de uso indevido das entidades — ou seja, da forma como arrecadamos recursos para garantir a participação de estudantes em espaços nacionais do movimento estudantil, neste caso, em específico. Falamos de ações legítimas e amplamente utilizadas no meio estudantil, como venda de materiais (inclusive confeccionados por organizações), arrecadação por meio das próprias entidades, campanhas de doação, entre outras. Em alguns casos, foi debatida inclusive a possibilidade de contratação de serviços a partir de empresas com vínculo político-partidário — como gráficas e estamparias — o que não representa qualquer problema, desde que realizado com absoluta transparência e a serviço das demandas do movimento estudantil. O próprio cotidiano das entidades revela práticas semelhantes, como contratações de empresas de segurança, audiovisual ou tecnologia, que já operam com diferentes grupos políticos e coletivos, sem que isso represente, por si, um desvio ético ou político.
Compreendemos que as entidades são, acima de tudo, um instrumento dos estudantes para organizar as massas e intervir na luta de classes — um instrumento que requer um projeto político, capaz de dar conta de todas as tarefas que levarão à construção do socialismo. As entidades estudantis, portanto, não são entidades imparciais, e tem toda a legitimidade de apoiar um movimento ou projeto político, inclusive financeiramente, desde que isso seja feito com transparência no que o projeto defende e com prestação de contas.
É verdade, porém, que diante da urgência e da magnitude do desafio financeiro imposto pelo 60º CONUNE — evento que mobiliza milhares de estudantes de todas as regiões do país — surgiram propostas equivocadas. Quem já participou sabe: estamos falando de custos altíssimos, muitas vezes ultrapassando centenas de milhares de reais, especialmente quando se trata do transporte de delegações do Norte e Nordeste, ou da garantia de alimentação e alojamento minimamente dignos. Além disso, é preciso dizer com todas as letras: a estrutura do congresso é deliberadamente precária para a oposição à direção majoritária da UNE. Nos últimos congressos, vivenciamos situações graves: estudantes, militantes e independentes, passando fome, sem condições mínimas para tomar banho ou descansar. É por isso que, como organização nacional, temos a responsabilidade de encontrar formas de garantir a participação da nossa base com dignidade — e de denunciar as condições precárias impostas pela burocracia estudantil àqueles que ousam construir outra perspectiva de movimento.
Foi nesse contexto de desespero e pressão que surgiram propostas como a ideia de rifas falsas direcionadas a grupos como aqueles de extrema direita (e não a estudantes ou à comunidade acadêmica). Essa proposta, distorcida no registro veiculado, foi posteriormente criticada entre a militância, entendendo os seus limites e problemas concretos envolvidos. Consideramos esse episódio um erro — que, por mais que tenha sido identificado e combatido rapidamente, exige de nós responsabilidade em assumir e debater com franqueza, sem desviar do essencial: nosso compromisso com a honestidade, a coerência política e o financiamento coletivo da luta estudantil. É importante frisar que nunca realizamos rifas falsas, e essa proposta nunca chegou a ser posta em prática.
É necessário, porém, reafirmar: a política de finanças que empreendemos — seja nas entidades, seja para as finanças partidárias — deve ser objeto de grande reflexão política e estar de acordo com nossos princípios marxistas-leninistas. Circulismo, vendas, a liberação de militantes via entidades etc. são todas atividades legítimas no movimento estudantil. No entanto, não podemos justificar nossas ações apenas pela necessidade urgente de recursos para o Partido, em detrimento dos princípios que orientam politicamente essa necessidade.
No próprio IX Congresso da UJC, realizado em 2022 — e que reivindicamos com orgulho pelas valiosas contribuições coletivas —, incorporamos ao programa da juventude diretrizes importantes nesse sentido. Entre elas, destacamos:
“Garantir o controle das bases e a transparência dos recursos financeiros das entidades! Punição para organizações e indivíduos que comprovadamente desviam dinheiro das entidades estudantis, com a garantia de amplo direito de defesa frente às comissões independentes do ME.”
As entidades (estudantis, sindicais, comunitárias etc.) existem para organizar a luta de seus representados. É dever dos comunistas construí-las com esse fim, organizando cada vez mais estudantes para a luta de classes, em unidade com os e as trabalhadoras. As finanças das entidades também devem servir a essa finalidade — com transparência, controle democrático e rigor. É evidente que as entidades do movimento não devem se pautar por um corporativismo estreito; é legítimo que apoiem financeiramente outras lutas — sejam chapas estudantis que compartilhem de seu programa, sejam manifestações do calendário do movimento, sejam campanhas da classe trabalhadora em sua totalidade.
Diante disso, foi extremamente preocupante que esse debate legítimo tenha sido equivocadamente registrado e veiculado como “aparelhamento de entidades” no sentido financeiro. Utilizar serviços politicamente orientados, como gráficas, estamparias ou empresas de segurança, não configura nenhum desvio — desde que haja critérios públicos, prestação de contas e compromisso ao programa político defendido pela entidade e eleito pelo conjunto dos estudantes. Sem isso, cria-se uma caricatura do debate e se alimenta uma narrativa de criminalização da militância organizada, mesmo quando se está tratando de práticas comuns e legítimas do movimento.
Reafirmamos com toda a firmeza: consideramos inaceitável na UJC e no PCBR qualquer movimentação de recursos das entidades que dirigimos feita à revelia ou escondida dos representados por essas entidades. Como qualquer estudante pode ver na nossa atuação cotidiana, e pelas prestações de contas das nossas entidades, nunca fizemos práticas de aparelhamentos e não defendemos de forma alguma que ela seja feita pela nossa militância. Agir dessa forma fere nossos princípios, afasta estudantes do movimento estudantil, mina sua confiança nas entidades e nas organizações políticas — e não gera qualquer elevação de consciência de classe. A forma como lidamos com os recursos coletivos diz muito sobre o projeto que construímos.
No presente momento, as nossas gestões estudantis estão atuando com total transparência, prestando contas de forma pública e com documentação acessível. Essa prática é coerente com a linha que defendemos e deve servir como referência para todo o movimento estudantil. Inclusive, cabe dizer: diversas organizações que utilizaram esse episódio para autopromoção deveriam também garantir esse padrão de transparência e compromisso com suas bases — pois muitos estudantes logo perceberam que as acusações não correspondiam à prática política da UJC em suas universidades. Esperamos que esse tipo de postura não ocorra. E, se ocorrer, combateremos com seriedade.
Nosso objetivo não é transformar essa questão em um espetáculo de rede social, que apenas despolitiza e afasta os estudantes da construção cotidiana do movimento estudantil. Queremos, sim, que esse momento sirva para reafirmar o rumo político que defendemos e seguir fortalecendo um trabalho coletivo, sério e reconhecido pelas bases.
Seguimos absolutamente abertos a prestar contas de cada centavo movimentado pelas entidades que dirigimos. Quem quiser ver, verá: tudo é legítimo, fruto do esforço coletivo e do compromisso com a base estudantil.
É justamente nesse terreno que o oportunismo busca se mover: distorcendo os fatos, espalhando desinformação e tentando se projetar politicamente às custas de um trabalho sério, qualificado e amplamente reconhecido que a UJC e o PCBR vêm desenvolvendo nas entidades estudantis. Não é coincidência que esse tipo de ataque apareça justamente no momento em que ampliamos nossa presença no movimento, com vitórias concretas, fortalecimento organizativo e crescente influência política entre a base, mesmo diante das limitações que ainda enfrentamos.
O mais grave é que algumas organizações, ao invés de buscar esclarecimentos ou ouvir diretamente os estudantes envolvidos — como fizeram muitos que atuam conosco no cotidiano — preferiram correr para publicar notas apressadas, prints descontextualizados e fatos de uma ata distorcida, sem qualquer esforço de averiguação ou compromisso político com a verdade. Essa postura revela muito sobre o tipo de disputa que se tenta travar: uma tentativa de deslegitimação, não de debate político real. Que isso ocorra justamente na largada do processo eleitoral para o CONUNE é revelador. Um espaço que deveria servir à apresentação de diferentes projetos para o movimento estudantil tem sido, infelizmente, usado por alguns para manobras de desinformação e ataques, em vez de confronto franco de ideias.
Ao invés de debater com os estudantes qual é o programa que cada organização defende para as entidades — sua posição sobre a restrição de recursos à educação imposta pelo arcabouço fiscal, sua posição frente à política econômica do governo, ou sobre como deve se portar a UNE frente às mobilizações da classe trabalhadora e da juventude —, preferem reduzir o debate político a fofoca, difamação e distorção.
Essa postura diz muito sobre a fragilidade de seus próprios projetos. Temos que estar atentos a esse método. Ele se apresenta como defesa da moralidade, mas serve, na verdade, para encobrir a ausência de um programa que realmente articule as demandas da juventude trabalhadora nas universidades ou encobrir as suas próprias políticas. Porque quem tem política séria para apresentar ao movimento não precisa recorrer a esse tipo de expediente. É claro que devemos cobrar coerência, transparência e compromisso de toda e qualquer organização. Mas é preciso desconfiar de quem faz disso seu único argumento — muitas vezes para esconder sua própria falta de princípios ou para disputar espaço à base do denuncismo vazio.
E é necessário afirmar com todas as letras: o ataque direcionado à UJC foi instrumentalizado de forma oportunista por diversos setores, incluindo aqueles ligados a tradições históricas do movimento dos trabalhadores e dos comunistas, o que não só nos entristece profundamente, mas também mancha a trajetória de nossa classe. Esses setores têm se configurado como verdadeiros detratores da luta dos trabalhadores pelo socialismo, em um desrespeito absoluto à tradição histórica e aos princípios do movimento comunista.
Enquanto defendem a "diplomacia secreta" com setores do reformismo e se abstêm de qualquer crítica pública a grupos alinhados com seus interesses, permitem-se o luxo de atacar a UJC utilizando um método que remonta às piores táticas das páginas de memes da extrema direita. Expondo abertamente o papel dos operadores dessas práticas, fazemos isso não apenas por uma questão de trazer à tona uma verdade, mas para alertar todo o movimento sobre a gravidade desse método, que é não só perigoso, mas totalmente incompatível com qualquer prática revolucionária.
Esse tipo de política, típica da direita e da lógica policialesca, não nos intimida. Mas precisa ser denunciada com a seriedade que merece. Trata-se de um método que rompe com qualquer padrão de camaradagem entre organizações da classe trabalhadora, que não contribui com o avanço da consciência política dos estudantes e que, no limite, favorece nossos inimigos de classe. Ao invés de fortalecer o movimento estudantil, esse tipo de prática semeia desconfiança, fragmenta as lutas e presta um desserviço à construção da unidade combativa e consequente da juventude.
E, a partir de agora, essa nota é apenas o começo de um debate. Um debate que queremos travar com cada estudante e cada entidade, para que possamos discutir e reafirmar nosso compromisso com a luta dos estudantes, com a luta da classe trabalhadora e com a luta em solidariedade ao povo palestino. A UJC está presente em todos esses espaços, ombro a ombro, com muitos dos que leem essa nota. Muitos que conhecem pessoalmente nossos militantes, nossos rostos, e podem dialogar diretamente para entender o que aconteceu.
Nossa busca continua sendo a construção de um movimento estudantil que tem, e pode ter, um papel real nesse momento de crise internacional do capital e de aprofundamento da opressão de nossa classe. O mundo, como conhecemos, está se transformando radicalmente, e precisamos que a classe trabalhadora consiga vencer nessa nova quadra histórica. A juventude e o movimento estudantil têm um papel central nisso: esse é o centro do nosso debate!