Nota política da UJC UFSC: os estudantes não ficarão para trás!

Nota política da UJC UFSC: os estudantes não ficarão para trás!

Depois de quatro meses sem atividades acadêmicas, cercada pela pressão do Ministério da Educação, do empresariado catarinense e da própria administração central e setores internos, a Universidade Federal de Santa Catarina vai retomar suas atividades de ensino na graduação, pós-graduação e ensino básico de modo não-presencial. A “saída” defendida pelo governo de Bolsonaro-Mourão e o empresariado da educação foi a de implementar o ensino remoto para o período de isolamento social.

Ainda que se tente argumentar uma suposta diferença qualitativa entre Ensino Remoto (ERE) e Ensino à Distância (modalidade regulamentada já conhecida e combatida historicamente pelo Movimento Estudantil), na prática, é extremamente similar a realidade das duas modalidades, de modo que no ensino remoto, devido à situação atípica que vivemos, há uma improvisação ainda maior em relação à educação. Não são poucos os relatos de estudantes que estão tendo aulas remotas e enfrentando dificuldades, tanto de acesso a ambiente adequado para estudar, quanto de aprendizado e estresse.

Muito menos é possível pensar um Ensino Remoto “inclusivo”. A educação no Brasil nunca foi inclusiva. Não é à toa que lutamos junto do movimento negro e movimento LGBT pela implementação de cotas raciais e cotas para a população trans, que denunciamos diversas vezes quem mais seria prejudicado com a aprovação dessa medida e iria ficar para trás: justamente a população negra, LGBT, mães, pessoas com problemas de saúde mental, entre outros jovens trabalhadores que sentem a crise do capital e sanitária nas costas. A esses a solução apresentada foi a de suspender o semestre, culpabilizando-os pela sua situação de vulnerabilidade e relegando-os à evasão, ao passo que alguns de seus colegas são submetidos a uma educação cada vez mais precarizada e a universidade segue ignorando as necessidades sociais que deveriam pautar toda sua produção.

Estudantes, não tenhamos ilusão com a situação: a aprovação do Ensino Remoto na UFSC foi uma derrota! A forma com que foi aprovado no CUn era esperada e evidencia o papel do ERE nesse momento: a concretização de um longo processo de precarização da educação, de abertura para atender os interesses dos grandes oligopólios da educação, da manutenção de uma lógica produtivista para o ensino e a perspectiva de formação acrítica para os estudantes servirem ao chamado mercado de trabalho, mercado o qual diminui a cada ano graças às políticas neoliberais implementadas pelos governos brasileiros. O projeto de universidade daqueles que defendem a implementação dessa medida definitivamente não é o mesmo do nosso, que lutamos por uma educação compromissada com a classe trabalhadora e com a construção de uma nova sociedade.

Ainda que tenhamos tido algumas conquistas na sessão do Conselho Universitário, como a aprovação da disciplina GRA001 para manutenção do vínculo dos estudantes com a universidade, o pagamento dos auxílios-transportes que foram cortados, a proibição de cortes de bolsas estudantis provenientes da UFSC e a abertura relativa para que atividades formativas complementares pudessem ser oferecidas, o principal não foi garantido, isto é: os estudantes não conseguiram barrar o Ensino Remoto.

Não houve a dita “democracia na retomada”. Com uma sessão do CUn tensa em que artigos essenciais em relação ao acesso e permanência estudantil não foram aprovados, presenciamos deboche de professores do CTC e argumentações reacionárias, algo que só mudou após exigirmos que o Conselho fosse transparente em relação aos votos, conseguindo posições mais favoráveis aos interesses dos estudantes.

Aqui entretanto, não há surpresa para nós, a democracia universitária em vigor é uma fantasia. Nossa universidade é constituída majoritariamente por estudantes e não temos poder de voto equivalente, os poucos conselheiros discentes representam milhares de estudantes, enquanto a maioria esmagadora dos conselheiros docentes representam no máximo algumas centenas. Os estudantes devem se mobilizar para denunciar a insuficiência dos espaços institucionais, apontar as contradições e forçar seus limites. Mesmo que o governo tente nos impor seu modelo de educação, nós, estudantes, podemos nos organizar e lutar por uma universidade que realmente atenda as demandas da classe trabalhadora. Não iremos depositar toda nossa confiança na institucionalidade, disputaremos quando necessário e defenderemos nossas propostas com firmeza enquanto movimento.

Além disso, o debate central sobre Ensino Remoto não deveria ser sobre ter acesso ou não, isto é uma maneira de desviar o principal propósito do repúdio ao ensino remoto: a denúncia ao caráter de educação que está sendo proposto à nossa classe. Defendemos sim a ampliação do acesso e reivindicamos sua universalidade, mas não paramos por aí, lutamos por um novo projeto de universidade e também de sociedade. Sob esse horizonte perpassa a luta contra o modelo de educação vigente e suas diversas formas precárias e excludentes.

Não se trata de uma posição “negacionista” ser contrário ao Ensino Remoto, se trata de uma análise concreta da realidade em que estamos inseridos e de encarar as difíceis tarefas que ela nos coloca enquanto juventude comunista. Não há como defender o indefensável e deixar passar uma educação improvisada para atender lógica de produzir por produzir em meio à crise sanitária e econômica que tem custado milhares de vidas. Ceder a essa proposta em busca do “menos pior” é o verdadeiro negacionismo e o caminho mais fácil, procurando deslegitimar aqueles que apontaram a necessidade de respostas mais combativas e pautando uma posição derrotista e rebaixada para o movimento estudantil. Não há como avançar com uma política desta maneira, alegando a “inevitabilidade” da derrota para o ERE e se furtando da construção de outra alternativa.

Compreendendo que não basta apenas atestar a realidade colocada, mas que é necessário intervir sobre ela, a União da Juventude Comunista na UFSC foi uma força política que deu grande impulso à elaboração de uma alternativa própria dos estudantes, pensada junto de professores e técnicos, com militantes do Movimento por uma Universidade Popular (MUP) e de diversos Centros Acadêmicos, construímos uma minuta de resolução alternativa para o retorno das atividades acadêmicas que propõe a realização de atividades formativas complementares que não substituiriam o ensino presencial das disciplinas obrigatórias.

Reconhecemos que o debate sobre tais atividades iniciou em momento relativamente tardio, mas é preciso considerar a excepcionalidade da situação e os esforços estudantis por respostas que ainda estão se desenhando nacionalmente. Nesse sentido, apontamos sempre a importância da construção de uma alternativa independente que consiga denunciar o ensino remoto e também propor um caminho possível de mediação nesta difícil conjuntura. Com a aprovação do Ensino Remoto na UFSC houve uma clara derrota para os estudantes, porém, ao mesmo tempo, foi aprovada a possibilidade de oferta de atividades pedagógicas a serem definidas pelos Colegiados de Cursos. Já tínhamos exemplo dos cursos de Serviço Social e Pedagogia em que estão avaliando seriamente a possibilidade de serem realizadas as atividades formativas complementares, além da experiência da Pós-Graduação em Educação da UFSC que em assembleia deliberou posição contrária ao Ensino Remoto e pela oferta de atividades formativas e de pesquisa.

Ainda é hora de se organizar! A UFSC nunca esteve parada, seguiu auxiliando no combate ao coronavírus, e aqueles que compõem a comunidade universitária estão em constante atuação. Além dos movimentos da cidade, o movimento estudantil teve diversas reuniões cheias, construiu ações de solidariedade e agora está na luta contra o ensino remoto, principalmente através da Frente pela Educação de Qualidade e nas disputas em colegiados de cursos através de seus Centros Acadêmicos e representações discentes. Convidamos todos os estudantes a se somarem nesses espaços e entidades, participando e contribuindo para o fortalecimento das pautas estudantis e gerais da classe.

A UJC UFSC continuará presente nas entidades e no cotidiano dos estudantes pautando uma política honesta e compromissada, visando não somente remediar a atual situação, mas contribuir para a consciência de que nossos problemas só serão verdadeiramente solucionados com a construção, pelas nossas mãos, da Universidade Popular e do Poder Popular rumo ao Socialismo! Não iremos aceitar que estudantes fiquem para trás!

Contra o Ensino Remoto na UFSC!

Educação Não É Improviso!

Pelas Atividades Formativas Complementares!

Lutar, Criar, Universidade Popular!