A União da Juventude Comunista no Processo da Reconstrução Revolucionária do Movimento Comunista Brasileiro

A União da Juventude Comunista no Processo da Reconstrução Revolucionária do Movimento Comunista Brasileiro

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O segundo semestre de 2023 teve como marco o processo de cisão do Partido Comunista Brasileiro e, junto a ele, os inúmeros questionamentos sobre o posicionamento e as táticas adotadas pela juventude, até então ligada formalmente ao PCB. Os motivos gerais que levaram ao cenário em que nos encontrávamos estão devidamente esmiuçados no documento Manifesto em defesa da Reconstrução Revolucionária do PCB! que cumpre o brilhante papel de, a partir do movimento comunista internacional e seus impasses, demonstrar o ressurgimento do etapismo na tática e, em alguma medida, de vacilações na estratégia, assim como isso se expressou na política do PCB nos últimos anos, culminando no processo de expulsões generalizadas dentre aqueles que defenderam a realização de um XVII Congresso Extraordinário como a única forma de solucionar a crise partidária, consolidando mecanismos de democracia interna e constituindo a unidade organizativa necessária a um partido proletário revolucionário.

As expulsões foram realizadas por um Comitê Central que abandonou qualquer perspectiva de unidade política e organizativa orgânica e que se recusou a cumprir com as resoluções congressuais do XVI Congresso, não restando outra alternativa, após o acirramento e esgotamento das disputas internamente, se não, a construção de um movimento paralelo às estruturas formais do PCB. O processo de crise e cisão, bem como a explicação de que maneira o Comitê Central do PCB opera essa política, estão descritos não somente no manifesto supracitado como também no documento Carta ao MCI: Como o Comitê Central do PCB viola as resoluções do XVI Congresso.

Mesmo antes do lançamento do manifesto, datado de 03 de agosto, a Coordenação Nacional da União da Juventude Comunista ainda em junho, após a publicização da participação do PCB na chamada Plataforma Mundial Antiimperialista e o acirramento da luta interna, ao contrário da postura adotada pela maioria do Comitê Central, enviou uma circular a toda militância ensejando o debate por todo o país. Os militantes precisavam debater os rumos que a política internacional do partido estava tomando e, a partir da formação marxista-leninista somada aos aprendizados obtidos por meio do vínculo orgânico com a construção da juventude, chegarem às suas próprias sínteses, em um processo que é individual e também coletivo. Apenas alguns dias depois da Coordenação Nacional ter orientado a militância a debater nos organismos internos da juventude, em detrimento das redes sociais e veículos públicos, a Comissão Política Nacional do PCB enviou um documento para todo o “complexo partidário” deslegitimando a CN diante das bases da UJC e proibindo de forma burocrática os debates em nossas fileiras.

A postura firme da Coordenação Nacional eleita no IX Congresso da UJC em 2022, foi prontamente acolhida pela maioria das Coordenações Regionais que, mantiveram-se unidas perante o princípio do centralismo democrático, afinal de contas estávamos diante de uma tentativa de cerceamento do debate. Ou seja, a partir do estopim da publicização da participação do PCB na dita plataforma, a juventude prontamente organizou o debate internamente sem abrir mão das tarefas que estavam planejadas e da luta cotidiana da nossa classe, inclusive participando de maneira unitária do Congresso Nacional da União Nacional dos Estudantes (CONUNE), enquanto a crise se alastrava por todos os organismos que compunham o PCB, inclusive nos nossos. Foi um processo de profundas discussões, com análises e balanços sobre a política adotada pelo partido que resultou em posicionamentos públicos dos estados na defesa de um XVII Congresso Extraordinário.

Ao mesmo tempo, esse processo de organização do debate interno foi retaliado pela maioria do Comitê Central do PCB que escolheu cortar relações com a juventude e expulsar sumariamente centenas de militantes do complexo partidário. Tudo isso foi detalhado na nota política da CN UJC de 12 de agosto, intitulada “Contra a intervenção do comitê central na juventude! Em defesa do XVII congresso (extraordinário) e da reconstrução revolucionária do PCB!”. Após a publicação dessa nota política, o cenário estava dado: a juventude, em esmagadora maioria, compreendeu que a única saída possível para a crise instaurada era a realização do congresso extraordinário e com o abandono completo dessa perspectiva pela maioria do Comitê Central do PCB que operou tais expulsões, não restou alternativa senão o rompimento do vínculo orgânico da UJC com o PCB.

Frente a esse cenário, a CNUJC decidiu por consultar toda a militância da organização visando que fosse respondida a questão: "O organismo é favorável à adesão orgânica da UJC na construção do XVII Congresso extraordinário do PCB?". Esse plebiscito partiu do princípio de que, se a juventude tem um papel central na reconstrução revolucionária do PCB, então seria preciso definir com nitidez a sua postura em favor do congresso que aprofundaria esse movimento. Portanto, por meio do Plebiscito Nacional, dezenas de núcleos e milhares de militantes em todo o país se posicionaram a favor da adesão e da construção unitária em torno do XVII Congresso extraordinário, demonstrando que o processo histórico em que a juventude comunista se desenvolveu contribuiu muito para que tenhamos hoje condições de reconstruir o movimento comunista brasileiro.

A partir disso, militantes em todo o país, puderam expor, dentro do quadro generalizado de cisão, os seus motivos particulares e desdobramentos locais do processo político e organizativo em curso no PCB, no movimento comunista brasileiro e no movimento comunista internacional. O processo de construção do amplo debate entre a juventude desenhou, assim, a possibilidade real de construção de uma síntese e unidade política orgânica da juventude no país que buscou, em sua maioria, não somente participar de um Congresso que trouxe novas bases político-ideológicas para a atuação da juventude comunista brasileira, mas efetivamente construiu esse Congresso, reivindicando nossos direitos e deveres como juventude no Movimento Nacional em Defesa da Reconstrução Revolucionária do PCB (PCB-RR). É importante ressaltar que, mesmo após o plebiscito, estados e núcleos aderiram posteriormente à Reconstrução Revolucionária, evidenciando que esse processo não ocorreu simultaneamente para todas as localidades, mas se consolidou de forma gradual ao longo do tempo a partir das especificidades locais.

Desde que o Comitê Central do PCB tentou dissolver e questionar a legitimidade da Coordenação Nacional da UJC, o PCB buscou disputar a direção da juventude comunista em nosso país, tendo o seu ápice na fundação de uma coordenação nacional paralela, fomentando uma disputa sobre qual era a legítima direção da organização. Enquanto prezavam pelo formalismo, enraizávamos, enquanto direção eleita no IX CONUJC, nossa atuação nas bases, discutíamos com os estados os seus posicionamentos e reafirmávamos cotidianamente nosso compromisso com o cerne político e ideológico de nossas últimas Resoluções Congressuais, assim como as Resoluções do XVI Congresso do PCB.

Enquanto o oportunismo da atual direção do PCB, em conjunto com a sua auto-intitulada Coordenação Nacional, agarrava-se em um único artigo do Estatuto da UJC que submete a nossa juventude ao Partido Comunista Brasileiro, a ampla maioria da militância da União da Juventude Comunista compreendia, de maneira mais profunda, que a submissão política e ideológica ao PCB se dava, não de maneira mecânica, mas aos princípios políticos, organizativos e ideológicos expressos em suas resoluções que foram rompidas pelo Comitê Central do PCB, com o aval dos que hoje buscam autointitular-se direções nacionais da UJC.

Sendo assim, como resultado da discussão coletiva a nível nacional, a União da Juventude Comunista, em sua esmagadora maioria, expressou seu compromisso inegociável com a reconstrução revolucionária do movimento comunista brasileiro, com a estratégia socialista no rumo da revolução brasileira e com a manutenção da maioria do atual trabalho da juventude sob direção e acompanhamento desta coordenação, o que não deixou de indicar uma derrota para o oportunismo da atual direção do PCB.

O manifesto do Movimento Nacional em Defesa da Reconstrução Revolucionária do PCB, já citado no presente documento, cumpriu a tarefa de esmiuçar os processos políticos de discussão interna e, simultaneamente, da própria atuação do partido na luta de classes, com os balanços, críticas e divergências acumulados desde 1922. A juventude, por outro lado, decidiu pela defesa da realização do XVII Congresso Extraordinário como saída para a crise e após o desenrolar dos fatos aqui explicados, pela construção orgânica do processo.

Assim sendo, para que possamos construir a síntese da incorporação da União da Juventude Comunista à continuação histórica do Movimento em Defesa da Reconstrução Revolucionária do PCB, agora denominado Partido Comunista Brasileiro Revolucionário, também precisamos de um balanço das disputas políticas enfrentadas na juventude, das expressões do cerne ideológico da cisão em nossas discussões, posicionamentos e congressos nos últimos anos, assim como na própria atuação nas lutas que nos couberam nesse período. Um dos motivos que ensejou todo esse processo é a necessidade urgente de superação dos entraves para profissionalização, centralização e unificação dos nossos trabalhos. Então que trabalhemos nesse sentido!

A Geração dos VIII e IX Congressos nacionais da UJC.

Os VIII e IX Congressos Nacionais da UJC foram marcos importantes na história recente de nossa organização que culminaram e sintetizaram importantes processos de disputa política e ideológica que a nossa geração atravessou, mesmo que em termos não tão claros quanto no atual processo de cisão do PCB. O primeiro, realizado em 2018, ocorreu em um contexto de crescimento numérico e radicalização da juventude comunista, marcada pelos processos políticos gerais protagonizados no país nos anos anteriores. O segundo, realizado em 2022, consolidou essa radicalização e apontou para novos desafios e perspectivas para a UJC.

A juventude presente nos dois últimos Congressos, nascida entre os anos 1990 e 2000, encara diariamente as mais contraditórias e violentas facetas do capitalismo e da sua atual crise global. Até o VIII Congresso, parte dos dirigentes da juventude foi marcada pela desilusão com os governos sociais-democratas e suas promessas de um futuro mais promissor. Por outro lado, os jovens que se uniram a nós a partir de 2017, intensificando sua participação na UJC durante a pandemia, já ingressaram desiludidos com as perspectivas de trabalho e estudo. Enfrentam o aumento do desemprego e da informalidade, com os estudos deixando de garantir melhores oportunidades no mercado de trabalho e uma pobreza em constante crescimento em nosso país e no mundo.

Enquanto a geração anterior do PCB havia sido marcada pela derrota do Movimento Comunista Internacional após a Contrarrevolução na União Soviética e a tentativa de liquidação do PCB nos anos 90, a atual geração inicia sua militância política em um cenário global do movimento comunista difuso e desorganizado, abalado pela ideologia e programa neoliberais dominantes no cenário econômico internacional. Ao mesmo tempo, o neoliberalismo impõe um capitalismo tão duro e violento em nossa juventude que a resposta espontânea que surge entre a nossa geração assume tons cada vez mais radicalizados, afastando-se dos métodos do reformismo e etapismo, que leva a um crescimento e radicalização da UJC.

O VIII Congresso Nacional da UJC, realizado no primeiro semestre de 2018, é um dos pontos de virada da compreensão da crise política e econômica crescente em nosso país, refletida nas discussões e sínteses da militância da UJC em seus espaços congressuais. Por um lado, vimos uma militância jovem e recém ingressa na vida partidária fortemente abalada pela crise econômica e social de 2014 a 2017. Os ajustes fiscais, o ataque aos serviços públicos e o aumento das privatizações promovidos pelos governos de Dilma II e Michel Temer, sobretudo as contrarreformas do programa "Ponte para o Futuro", resultaram em um aumento significativo da desigualdade e da pobreza em nosso país. Isso foi exacerbado pelo crescimento do conservadorismo e da extrema-direita após o Golpe de Estado de 2016, que culminou no impeachment de Dilma.

Por outro lado, essa mesma juventude é marcada pelos processos políticos gerais que protagonizou nos anos de 2013 e 2017 em nosso país. Desde os protestos nacionais relacionados ao transporte em 2013, passando pelas manifestações contra a Copa do Mundo em 2014, até as ocupações secundaristas em 2015 e 2016, simultaneamente às ocupações universitárias e greves estudantis. Isso culminou na participação ativa no processo de greve geral em 2017. Em 2018, ao fim do processo congressual, a ascensão do fascismo no Brasil e no mundo também contribuiu para o aumento da radicalização da juventude e sua compreensão da necessidade de organização política para impor uma derrota ao fascismo sem abrir mão da luta pelo socialismo.

Assim, o cenário político atravessado impulsionou a classe trabalhadora brasileira, especialmente os jovens, a redescobrir a importância das ferramentas históricas do proletariado e a necessidade de uma ruptura com o sistema capitalista, mesmo que esse entendimento se dê de forma espontânea. A drástica disparidade na transição para a vida adulta no capitalismo contemporâneo e nas interações como sujeitos frente à exploração capitalista inevitavelmente influencia a maneira como essa juventude se percebe como sujeito político em seus espaços de organização, como é o caso da UJC, e impacta as dinâmicas em nossos espaços políticos, como os congressos.

A conjuntura atual impulsionou a UJC a se ancorar no marxismo-leninismo e a romper com ilusões de outras formas para a transformação da sociedade, senão a ruptura completa com o capitalismo. Anteriormente, o socialismo apresentava-se, muitas vezes, como uma mera demarcação política em relação ao sindicalismo predominante da época, como o do PT, e também um objeto de estudo; nossa geração retorna à leitura do dilema socialismo ou barbárie. A UJC se apresenta, por um lado, como uma resposta radical para uma juventude que sente que já não tem mais nada a perder. Por outro lado, ela se radicaliza à medida que essa mesma geração nos demonstra que os métodos anteriores foram historicamente insuficientes.

Esses processos foram responsáveis pelo crescimento numérico de nossas fileiras, com militantes que, apesar de sua pouca idade, traziam consigo o acúmulo da efervescência da luta de classes dos anos anteriores. O VIII CONUJC desempenhou um papel fundamental ao consolidar esses acúmulos e ao promover a nacionalização que hoje observamos. Através de uma discussão centrada para a atuação no movimento de massas, a juventude se empenhou em elaborar e consolidar sínteses nacionais em temas cruciais, como política de alianças, formação de lideranças e o papel da direção.

Essas discussões aparecem em nossas Resoluções Congressuais, seja do VIII seja do IX Congresso, de diversas maneiras: desde a compreensão do sistema imperialista em sua dinâmica global até a revisão dos métodos de luta, como a reconsideração das alianças com setores da social-democracia, sobretudo após a pandemia, as estratégias de alianças até os locais de atuação, agitação e propaganda junto aos jovens trabalhadores, e a abordagem da luta dentro das universidades, que agora foca não apenas na busca de um “ensino de excelência”, mas também na defesa da permanência e do caráter público do ensino em si.

IX CONUJC

O IX CONUJC demarcou um salto de qualidade na concepção da juventude enquanto parte de um processo maior, a ponto de se permitir construir e balizar as bases do que seria um partido leninista, tomando para si as responsabilidades enquanto sua juventude. Nas resoluções aprovadas é possível demarcar pilares fundamentais do partido leninista, os exemplos são os mais diversos.

Sobre a formação, o congresso reafirmou a necessidade de construção de um sistema nacional de formação que esteja à altura das demandas da nossa classe. Buscando a superação do academicismo e da cátedra em nossa organização, atrelando o processo formativo ao prático, inserido no movimento de massas, buscando qualificar nossos quadros negros/as, mulheres, e LGBTs, compreendendo nosso papel dentro da dinamica estrutural e como superar essas questões a partir da via leninista.

Sobre agitação e propaganda, a juventude conseguiu compreender a problemática da fragmentação do trabalho e pautou sua disputa em torno da unificação da nossa atuação, tendo enquanto síntese o papel da agitação e propaganda para a inserção de nossa linha política entre a classe trabalhadora. Nesse sentido o papel do jornal tomou centro, tendo enquanto disputa o caráter antileninista d’O Poder Popular e os passos que deveríamos dar para superação de tal cenário, visando a constituição do referido Jornal como um efetivo organizador político do partido.

Nas finanças se demarcou o caminho da profissionalização e complexificação de nossa estrutura, visando dar cabo de nossas demandas, reconhecendo o perfil de sua juventude e apontando a necessidade de superação do trabalho artesanal, visando garantir o avanço do movimento de massas. Houve uma reafirmação no caráter dos recrutamentos, atrelando cada vez mais a militância prática enquanto parte constituinte do convencimento das pessoas interessadas na organização. Se distanciou de uma noção manualesca de assistência, permitindo o desenvolvimento político da tarefa e rompendo com a ideia de que essa tarefa consiste em ser um mensageiro de instâncias.

Nesse sentido, o debate acerca da comunicação conduziu o congresso para a demanda de maior democracia na relação entre organismos, incentivando o envio de atas de reunião e informes amplos com maior frequência; esse ponto, que era um pequeno passo dentro de um debate maior sobre centralismo democrático, foi acompanhado pela demanda de nacionalização trazida pela militância do norte. A juventude no congresso apreciou a moção intitulada “Para combater concentração local, construir a juventude nacional!” e se comprometeu, de forma sistemática, a trabalhar nossa capilaridade e integração com todas as regiões do país através de um robusto processo de autocrítica sobre nossa concepção do centralismo democrático e do leninismo.

Outro ponto essencial de nossa linha política foi a construção de uma política de alianças que ponha na balança a independência política de nossa organização, promovendo uma agitação e propaganda independentes de compromissos que estabelecemos com outras organizações políticas. Demarcou-se uma postura de críticas abertas e debates transparentes junto às nossas bases, assegurando uma compreensão coletiva dos compromissos assumidos.

É inegável o papel preponderante da UJC ao não mais seguir de maneira reboquista partidos de orientação pequeno-burguesa. Agora, compreendemos que por meio de nossa agitação e propaganda, podemos arrastar conosco às organizações vacilantes em direção a uma linha política consequente com a luta pela emancipação de nossa classe.

A política internacional assumiu também contornos centrais, ao unir a luta anti-imperialista com a luta anticapitalista. Compreendemos o imperialismo não somente como fenômeno econômico, mas também político e social, alinhando-nos a clássica compreensão do marxismo-leninismo. A luta anti-imperialista se entrelaça com a luta nacional contra a exploração social e de superação da social-democracia. A centralidade da construção de uma alternativa socialista delimitou-se como imperativa. A FMJD e outros espaços internacionais dos quais fazemos parte foram delimitados em seu papel de amplificar as lutas que travamos, impulsionando organizações com princípios políticos coerentes aos nossos, fortalecendo os blocos revolucionários e as organizações de juventude que estão mais próximas à luta anti-imperialista atrelada à luta anticapitalista. Essa é a linha que defendemos e que permeia nossas resoluções congressuais.

Estas discussões são emblemáticas de um período histórico de vacilação em relação à social-democracia e da degeneração ideológica que afeta o movimento comunista

internacional. A UJC se destacou ao avançar nesse debate, demonstrando como a política desta geração se estabelece, e como compreendemos as forças em jogo na luta de classes, tanto em nível nacional quanto internacional. O momento exige firmeza ideológica e unidade na ação para enfrentar os desafios que se colocam à classe trabalhadora. Em meio à cisão, reafirmamos nosso compromisso com os princípios que orientam nossa luta pela emancipação da classe trabalhadora, conscientes de que somente através da luta organizada e da construção de uma alternativa socialista podemos alcançar o futuro que almejamos.

O cerne de diversas discussões que vimos nas tribunas de debates estiveram em contribuições que dialogaram com essas perspectivas, apontando que o caminho da reconstrução revolucionária passa por tais tópicos e tem ressonância na juventude comunista.

Foi possível constatar que tínhamos grandes obstáculos para nos tornarmos uma organização de fato leninista. Mas ao que tudo indica, o maior obstáculo era a ausência de um partido com condições de dirigir a juventude por esse caminho, ou seja, era impossível sermos de fato leninistas enquanto juventude sem um partido de vanguarda que se preze a dirigi-la e consequentemente auxiliar nas suas formulações.

A nacionalização da juventude e sua relação com o movimento de massas.

As dificuldades práticas com as quais nos defrontamos para o avanço do nosso trabalho, identificadas no IX Congresso da UJC, culminaram na aprovação de uma moção que apontou para o objetivo de nacionalização efetiva da organização. O federalismo vigente no partido até então, somado aos desvios etapistas, manifestou-se em uma série de problemas ligados à fragmentação do nosso trabalho político. Ao invés de atuarmos enquanto um corpo coeso, orientado pelas mesmas diretrizes táticas e estratégicas, capazes de enxergar por trás de cada tarefa particular os objetivos centrais da nossa organização, predominavam acúmulos circunscritos à regionalidades específicas, dificuldade de universalização das formulações políticas e a desarticulação entre os trabalhos de cada frente de atuação.

O compromisso firmado pelo avanço da democracia interna e pela unificação da agitação e propaganda coincidem, portanto, com a necessidade de nacionalização da juventude revolucionária. Isto é, se por um lado lidamos com uma ampla diversidade étnica, regional e cultural dentro da juventude trabalhadora brasileira, por outro, a necessidade de organizar os diversos setores e categorias da classe em uma luta única contra o capitalismo nos colocou o desafio de organizar um partido centralizado e que seja capaz de unificar seus diversos trabalhos políticos.

Sendo a perspectiva fundamental dos leninistas a prática política em direção à tomada do poder, é crucial, na organização da nossa juventude, fazer avançar política, econômica e ideologicamente, em cada um dos embates onde se expressam os conflitos de classes, a luta geral dos trabalhadores. Em outras palavras: a práxis política revolucionária tem como objetivo central conduzir as mobilizações gerais e espontâneas do proletariado em direção à estratégia da revolução socialista.

Se a classe dominante, contra a qual o proletariado deve combater, detêm os aparelhos repressivos do Estado, a propriedade privada dos meios de produção, o conjunto das instituições jurídicas e ideológicas a serviço de sua hegemonia, cabe ao proletariado, rumo à conquista de sua própria hegemonia política frente às demais classes exploradas, a construção de uma organização profissional, disciplinada, amplamente democrática, coesa e que combata – em cada um dos espaços onde se insere – os reflexos da ideologia burguesa e pequeno-burguesa na consciência média dos trabalhadores.

Para isso, é indispensável uma política de agitação e propaganda nacional e unificada, uma cadeia de comando eficiente e centralizada, uma direção coletiva teórica e politicamente preparada, um fluxo de informações constantes e a unidade de ação dos quadros mais destacados do proletariado, de modo a integrar um verdadeiro exército na guerra que se desenvolve no terreno fértil da luta de classes.

Se os variados movimentos sociais do país têm suas particularidades e reivindicações imediatas, todos elas estão integradas e subordinadas a uma mesma totalidade concreta: o capitalismo mundial, em cuja divisão o Brasil se insere de modo dependente. A localização do Brasil em uma posição intermédia na cadeia imperialista global, a constituição de uma burguesia que atua como sócia minoritária da burguesa mundial e o avanço da extrema-direita em um contexto de crise do capitalismo em sua fase neoliberal, são alguns dos elementos que compõem a totalidade em torno da qual cada uma das movimentações da nossa classe se insere.

Portanto, as nossas táticas, recuos, compromissos e alianças só servem às demandas dos trabalhadores na medida em que fazem avançar – para além dos limites das lutas imediatas – nossa estratégia de rompimento com nossa formação histórica dependente, legada da colonização, e organização de uma sociedade socialista. A substituição do governo Bolsonaro-Mourão pelo governo social-liberal Lula-Alckmin não implica a derrubada histórica do fascismo, e os pequenos avanços nas lutas parlamentares em nada mudará a atual correlação de forças e a estabilidade do programa liberal burguês se não forem orientadas ao fortalecimento da mobilização popular, tendo como perspectiva a conquista do poder político pela classe trabalhadora.

Na atual conjuntura, muitas tarefas se colocam à juventude trabalhadora brasileira, em suas diversas camadas. As recentes greves estudantis contra a precarização do ensino superior brasileiro; a luta dos povos originários contra o marco temporal; o enfrentamento à violência policial e às tentativas de privatização dos presídios; as mobilizações contra a precarização do trabalho e as medidas de austeridade do governo; as demonstrações de solidariedade aos povos do mundo que também resistem ao imperialismo capitalista – como é o caso do povo palestino – e todos enfrentamentos ao capital demonstram que, ainda que de forma fragmentada, existe uma resistência ao atual estado de coisas. É tarefa da UJC, nesse sentido, se inserir nessas diversas lutas imediatas, em cada local de moradia, estudo e trabalho que tivermos alcance, e, cumprindo seu papel de vanguarda, contribuir com a elevação da consciência de classe e capacidade de organização da juventude brasileira, tendo como perspectiva a conquista do poder político e da hegemonia proletária, tanto no Brasil quanto no mundo.

Para isso, é fundamental que toda essa militância, das diversas cidades e estados brasileiros, esteja integrada a uma mesma estrutura política, em iguais condições de formulação política e planejamento da nossa atuação. Em lugar do encastelamento das direções, da fragmentação do trabalho, do federalismo e do cerceamento do debate, colocamos o compromisso de construir uma organização verdadeiramente nacionalizada.

O XVII Congresso Extraordinário do PCB-RR

Frente ao compromisso firmado pela majoritária parcela da União da Juventude Comunista e sua Coordenação Nacional, os nossos esforços se voltaram à participação e construção orgânica do XVII Congresso Extraordinário do PCB-RR em 21 estados da federação, além do Distrito Federal. De norte a sul do país, engajamo-nos em debates político-ideológicos sobre a realidade da juventude trabalhadora brasileira, a especificidade da exploração do trabalho neste momento de vida do proletariado, a caracterização da multiplicidade da juventude e seus movimentos e a incontestabilidade do caráter socialista da revolução brasileira em nosso país, assim como da necessidade e urgência histórica de um Partido Comunista a altura dos desafios a serem enfrentados pela juventude brasileira.

Por isso, passado quase um ano de construção e dedicação política diária, nos dias 29, 30, 31 de maio e 1 e 2 de junho, realizou-se em Guararema, São Paulo, o XVII Congresso Extraordinário do Partido Comunista Brasileiro – Reconstrução Revolucionária que contou com uma massiva participação da UJC, tendo a sua militância ampla participação e direitos políticos plenos. Foram centenas de delegados dos mais diversos cantos do país, reunidos para deliberar os futuros da luta comunista no Brasil.

Neste congresso também, a vasta maioria decidiu que o nome responsável por levar a cabo o processo de Reconstrução Revolucionária do Partido Comunista Brasileiro e do Movimento Comunista brasileiro é: Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR).

Portanto, manifestamos que, a partir de agora a UJC está vinculada ao PCBR e contribuirá de forma decisiva para o avanço da hegemonia proletária no Brasil, o fortalecimento do marxismo-Leninismo e do internacionalismo proletário.

Compreendemos que o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário carrega dentro de si uma militância majoritariamente jovem, mas fortemente arraigada aos princípios básicos ideológicos forjados ao longo de anos de intensa batalha política por um Partido Comunista verdadeiramente marxista-leninista. Ainda temos muitos passos a dar para efetivar o seu caráter revolucionário. A disposição e a firmeza revolucionária de milhares de jovens comunistas desse país serão o primeiro passo a ser dado, ao lado de centenas de camaradas, comprometidos com a reconstrução revolucionária do movimento comunista brasileiro e internacional.

O comunismo é a juventude do mundo!
Juventude que toma Partido é Juventude que é Partido!
Viva a União da Juventude Comunista!
Viva ao Partido Comunista Brasileiro Revolucionário!